A Mulher de Trinta Anos - Cap. 2: Sofrimentos desconhecidos Pág. 92 / 205

Sim, quando Helena me fala, queria ouvir-lhe outra voz; quando me fita, eram outros olhos que queria encontrar nela. Ela me atesta tudo que deveria ser, tudo que não é. É-me insuportável! Sorrio-lhe, tento compensá-la dos sentimentos que lhe roubo. Sofro! Oh, senhor, sofro demasiado para poder viver. E passarei por ser uma mulher virtuosa! E não cometi faltas! E respeitar-me-ão! Combati o amor involuntário ao qual não devia ceder; mas, se conservei a minha fé física, conservei por acaso o coração?

Este - disse, pousando a mão direita sobre seu seio -, pertenceu a um só ser. E a minha filha não se engana. Existem olhares, uma voz, gestos de mãe, cuja força forma a alma das crianças; e minha pobre filhinha não sente meu braço estremecer, a minha voz tremer, os meus olhos se suavizarem quando a fito, quando lhe falo ou quando a tomo nos braços. Lança-me olhares acusadores que não sustento. Por vezes, tremo de encontrar nela um tribunal, onde serei condenada sem ser ouvida. Permita o céu que não se avive um dia o ódio entre nós! Santo Deus! Abri-me antes o túmulo, deixai-me acabar em Saint-Lange. Quero ir para o mundo onde encontrarei a alma irmã da minha, onde serei completamente mãe! Oh, perdão, senhor, estou louca. Estas palavras sufocavam-me, por isso as disse. Ah, também chora! Não me despreza.

Helena! Helena minha filha, vem cá! - exclamou Júlia com uma voz de desespero, ouvindo a filha que voltava do passeio.

A pequenina entrou rindo e gritando: tinha na mão uma borboleta que apanhara; mas vendo a mãe lavada em lágrimas, calou-se, aproximou-se e deixou que a beijasse na fronte.

- Há de ser muito linda - disse o padre.

- É o retrato vivo do pai - replicou a marquesa, beijando a filha com a calorosa expressão de quem paga uma dívida ou dissipa um remorso.





Os capítulos deste livro