E daqui foi o cura continuando até sucintamente contar o que sucedera entre Zoraida e o cativo.
A tudo isto prestava tanta atenção o ouvidor, que nunca na sua vida havia sido tão ouvidor como então. Só chegou o cura até o lance em que os franceses despojaram os cristãos que vinham na barca, e à necessidade e pobreza a que o seu camarada e a formosa moura ficaram reduzidos, acrescentando que não sabia o que fora feito deles, se haviam chegado a Espanha ou se os franceses os tinham levado para França.
O capitão, um pouco desviado, estava escutando quanto dizia o cura e observava os movimentos do irmão, e este, vendo que o cura havia chegado ao fim do conto, disse, dando um grande suspiro e enchendo-se-lhe os olhos de lágrimas:
— Ah, senhor, as novidades que me dais tocam-me tanto, que não posso deixar de mostrá-lo com estas lágrimas que contra toda a minha discrição e esforço me rebentam dos olhos! Esse tão valoroso capitão, em que me falais, é o meu irmão mais velho, o qual, como mais forte, e de mais altos pensamentos do que eu e o outro meu irmão mais novo, escolheu o honroso e digno exercício das armas, que foi este um dos três caminhos que nosso pai nos propôs, como vos disse o vosso camarada, na história que a nosso respeito lhe ouvistes.