— Conheço para isso bom remédio — disse o do Bosque; — trago aqui dois sacos de pano do mesmo tamanho; agarre num, que eu agarro no outro, e bater-nos-emos a saco, e com armas iguais.
— Desse modo acho bem — respondeu Sancho — porque tal combate mais servirá para nos sacudir o pó, que para nos tirar o sangue.
— Não — respondeu o outro — metem-se dentro dos sacos, para que o vento os não leve, meia dúzia de boas pedras, que pesem tanto umas como outras, e deste modo nos poderemos desancar, sem nos fazermos mal nem dano.
— Olhem que chumaços! corpo de meu pai! — redarguiu Sancho — mas, ainda que se enchessem os sacos de novelos de seda, saiba, senhor mano, que não quero pelejar; pelejem os nossos amos, bebamos e vivamos nós, que o tempo tem o cuidado de nos tirar as vidas, sem que andemos à cata de apetites para que elas acabem antes de cair de maduras.
— Pois havemos de pelejar, ainda que não seja senão meia hora — tornou o outro.
— Qual história! — respondeu Sancho — não serei tão descortês e desagradecido, que trave questões com uma pessoa com quem comi e bebi, tanto mais que, estando sem cólera e sem