Até aqui chegou o extremo da sua nunca vista loucura; mas o generoso leão, mais comedido do que arrogante, não fazendo caso de ninharias nem de bravatas, depois de olhar para um e para outro lado, voltou os quartos traseiros para D. Quixote, e com grande fleuma e remanso tornou a deitar-se na jaula; vendo isto, D. Quixote ordenou ao guarda que o irritasse com pauladas, para o fazer sair.
— Isso não faço eu — respondeu o guarda — porque, se o instigo, o primeiro a quem despedaça é a mim. Vossa Mercê, senhor cavaleiro, contente-se com o que praticou, que é o mais que se pode dizer em gênero de valentia, e não queira tentar fortuna segunda vez; o leão tem a porta aberta, está na sua mão sair ou não sair; pois se não saiu agora, não sai nem que estejamos aqui o dia todo; a grandeza de ânimo de Vossa Mercê está já bem declarada; nenhum bravo pelejador, parece-me a mim, é obrigado a mais do que a desafiar o seu inimigo e esperá-lo em campina rasa; e, se o contrário não acode, com ele fica a infâmia, e o que espera ganha a coroa do vencimento.