A Decadência da Mentira - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 16 / 42

Vivian (lendo) – “A Arte começa com a decoração abstrata, com a obra puramente imaginativa e prazerosa lidando com o que é irreal e inexistente. Esse é o primeiro estágio. Então a Vida fica fascinada com essa nova maravilha, e pede para ser admitida no círculo encantado. A Arte toma a Vida como parte de sua matéria-prima, a recria, e a remodela em formas novas, é absolutamente indiferente a fatos, inventa, imagina, sonha, e mantém entre ela e a realidade a impenetrável barreira do belo estilo, do tratamento decorativo ou ideal. O terceiro estágio é quando a Vida ganha a vantagem, e arrasta a Arte à selva. Essa é a verdadeira decadência, e é disso que estamos agora sofrendo.

“Veja o caso do drama inglês. Primeiro nas mãos dos monges, a Arte Dramática era abstrata, decorativa e mitológica. Então ela recrutou a Vida a seu serviço, e usando algumas das formas externas da vida, ela criou uma raça inteiramente nova de seres, cujas tristezas eram mais terríveis que qualquer uma que o Homem já sentiu, cujas alegrias eram mais intensas que alegrias de amantes, que tinham a fúria dos Titãs e a calma dos deuses, que tiveram monstruosos e magníficos pecados, monstruosas e magníficas virtudes. A eles ela deu uma linguagem diferente dessa do uso comum, uma linguagem cheia de música ressoante e doce ritmo, feita majestosa por solene cadência, ou feita delicada por fina rima, adornada com maravilhosas palavras, e enriquecida com grandiosa eloquência. Ela vestiu sua cria com inusitada roupa e deu-lhe máscaras, e ao seu comando o obsoleto mundo se levantou de sua tumba de mármore. Um novo César atravessou altivamente as ruas da Roma erguida, e com roxo barco à vela e remadores guiados por flauta outra Cleópatra passou pelo rio a Antioquia.





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