A Utopia - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 133

sempre pareça alegre, amável e jovial no trato com aqueles que a natureza, o acaso ou a sua escolha lhe deram como amigos e companheiros da sua vida. E também de maneira a não se tornar desagradável pela familiaridade e gentileza excessivas e que, pela demasiada benevolência, se não torne escravo dos seus ser-vos. Assim, entre as ocupações que referi, se me escapa o tempo, os dias, os meses, os anos.

Perguntareis quando escrevo então? E nem sequer me referi ao tempo de sono e às refeições, em que muitos perdem tempo igual ao que dedicam ao sono, ocasiões em que se desperdiça metade do tempo de vida de um homem. Por isso, apenas consigo para escrever o pouco que roubo ao sono e à comida. Nesses breves intervalos, acabei finalmente por concluir a Utopia, e envio-vo-la, caro Pedro, para que a leais e a pesquiseis, a fim de que, se algo me tiver escapado, mo aponteis.

Embora, a este respeito, não deixe de ter confiança em mim próprio (e gostaria que além da memória, que não é pouca, a inteligência e o espírito também contassem), não me tenho em tão alta conta que julgue que nada me escapará. O jovem John Clement, que, como sabeis, também se encontrava presente (pois tenho sempre o cuidado que este espírito jovem, já adiantado nos estudos greco-latinos, não perca ocasião que possa contribuir para o seu amadurecimento); como ia dizendo, este jovem lançou no meu espírito uma grande dúvida. Pois quando Hitlodeu diz (se a memória me não falha) que. a ponte de Amaurota, sobre o rio Anidro tem quinhentos passos, isto é, meia milha





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