Frei Luís de Sousa - Cap. 2: Acto Segundo Pág. 46 / 122

Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda… oh! tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espectáculo como nunca vi outro de igual majestade!… A minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos; vai a fechá-los para dormir e diz que vê aquelas chamas inoveladas em fumo a rodear-lhe a casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal… o retrato de meu pai, aquele do quarto de lavor, tão seu favorito, em que ele estava tão gentil homem, vestido de cavaleiro de Malta com a sua cruz branca no peito, aquele retrato não se pode consolar de que lho não salvassem, que se queimasse ali. Vês tu? Ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai.




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