A Escrava Isaura - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 11 / 185

Vendo que seu pai esquecia-se completamente dos planos de criar-lhe um pecúlio próprio, Leôncio olhou para o casamento como o meio suave e natural de adquirir fortuna, como a única carreira que se lhe oferecia para ter dinheiro a esbanjar a seu bel-prazer.

Malvina, a formosa filha de um riquíssimo negociante da corte, amigo do comendador, já estava destinada a Leôncio por comum acordo e aquiescência dos pais de ambos. A família do comendador foi à corte; os moços viram-se, amaram-se e casaram; foi coisa de poucos dias. Pouco tempo depois de seu casamento Leôncio passou pelo desgosto de perder sua mãe por um golpe inesperado. Esta boa e respeitável senhora não tinha sido muito feliz nas relações da vida íntima com seu marido, que, como homem de coração árido e frio, desconhecia as santas e puras delícias da afeição conjugal, e com suas libertinagens e devassidões dilacerava cotidianamente o coração de sua esposa. Para cúmulo de males linha ela perdido ainda na infância todos os seus filhos, ficando-lhe só Leôncio. Lastimava-se principalmente por não ter-lhe deixado o céu ao menos uma filha, que lhe servisse de companhia e consolação em sua desolada velhice. Quis entretanto a sorte deparar-lhe em sua própria casa uma tal ou qual compensação a seus infortúnios em uma frágil criatura, que veio de alguma sorte encher o vácuo que sentia em seu bondoso e terno coração, e tornar menos triste e solitário o lar, em que passava os dias tão monótonos e enfadonhos. Havia nascido em casa uma escravinha, que desde o berço atraiu por sua graça, gentileza e vivacidade toda a atenção e solicitude da boa velha.

Isaura era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel da esposa do comendador. Este, que como homem libidinoso e sem escrúpulos olhava as escravas como um serralho à sua disposição, lançou olhos cobiçosos e ardentes de lascívia sobre a gentil mucama.





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