Inspiravam-lhe este alvitre o orgulho, e o mau conceito em que tinha todas as mulheres, nas quais não reconhecia pundonor nem dignidade. Depois do almoço Leôncio montou a cavalo, percorreu as roças e cafezais, coisa que bem raras vezes fazia, e ao descambar do Sol voltou para casa, jantou com o maior sossego e apetite, e depois foi para o salão, onde, repoltreando-se em macio e fresco sofá, pôs-se a fumar tranquilamente o seu havana.
Nesse comenos chega Henrique de suas excursões venatórias, e depois de procurar em vão a irmã por todos os cantos da casa, vai enfim encontrá-la encerrada em seu quarto de dormir desfigurada, pálida, e com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
- Por onde andaste, Henrique?... estava aflita por te ver, - exclamou a moça ao avistar o irmão. - Que má moda é essa de deixar a gente assim sozinha!...
- Sozinha?!... pois até aqui não vivias sem mim na companhia de teu belo marido?...
- Não me fales nesse homem... eu andava iludida; agora vejo que andava pior do que sozinha, na companhia de um perverso.
- Ainda bem que presenciaste com teus próprios olhos o que eu não tinha ânimo de dizer-te. Mas, vamos! que pretendes fazer?...
- O que pretendo?... vais ver neste mesmo instante... Onde está ele?... viste-o por ai?...
- Se me não engano, vi-o no salão; havia lá um vulto sobre um sofá.
- Pois bem, Henrique, acompanha-me até lá.
- Por que razão não vais só? poupa-me o desgosto de encarar aquele homem...
- Não, não; é preciso que vás comigo; estava à tua espera mesmo para esse fim. Preciso de uma pessoa que me ampare e me alente. Agora até tenho medo dele.
- Ah! compreendo; queres que eu seja teu guarda-costas, para poderes descompor a teu jeito aquele birbante. Pois bem; presto-me de boa vontade, e veremos se o patife tem o atrevimento de te desrespeitar. Vamos!