O que vale, - continuou André consigo e retirando-se, - o que vale é que neste negócio parece-me que ele anda tão adiantado como eu.
Pobre Isaura! sempre e em toda parte esta contínua importunação de senhores e de escravos, que não a deixam sossegar um só momento! Como não devia viver aflito e atribulado aquele coração! Dentro de casa contava ela quatro inimigos, cada qual mais porfiado em roubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o coração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula terrível e desapiedada, Rosa. Fácil lhe fora repelir as importunações e insolências dos escravos e criados; mas que seria dela, quando viesse o senhor?!...
De feito, poucos instantes depois Leôncio, acompanhado pelo feitor, entrava no salão das fiandeiras. Isaura, que um momento suspendera o seu trabalho, e com o rosto escondido entre as mãos se embevecia em amargas reflexões, não se apercebera da presença deles.
- Onde estão as raparigas que aqui costumam trabalhar?... perguntou Leôncio ao feitor, ao entrar no salão.
- Foram jantar, senhor; mas não tardarão a voltar.
- Mas uma cá se deixou ficar... ah! é a Isaura... Ainda bem! - refletiu consigo Leôncio, - a ocasião não pode ser mais favorável; tentemos os últimos esforços para seduzir aquela empedernida criatura. Logo que acabem de comer, - continuou ele dirigindo-se ao feitor, - leve-as para a colheita do café. Há muito que eu pretendia recomendar-lhe isto e tenho-me esquecido. Não as quero aqui mais nem um instante; isto é um lugar de vadiação, em que perdem o tempo sem proveito algum, em contínuas palestras. Não faltam por aí tecidos de algodão para se comprar.
Mal o feitor se retirou, Leôncio dirigiu-se para junto de Isaura.
- Isaura! murmurou com voz meiga e comovida.
- Senhor! - respondeu a escrava erguendo-se sobressaltada; depois murmurou tristemente dentro d'alma: - meu Deus! é ele!... é chegada a hora do suplício.