- Será o mesmo! - bradou Isaura levantando-se altiva, e com o acento rouco e trémulo da desesperação, - não me matarei por minhas próprias mãos, mas morrerei às mãos de um carrasco. Neste momento chega André trazendo o tronco e as algemas, que deposita sobre um banco, e retira-se imediatamente. Ao ver aqueles bárbaros e aviltantes instrumentos de suplício turvaram-se os olhos a Isaura, o coração se lhe enregelou de pavor, as pernas lhe desfaleceram, caiu de joelhos e debruçando-se sobre o tamborete, em que fiava, desatou uma torrente de lágrimas.
- Alma de minha sinhá velha! - exclamou com voz entrecortada de soluços, - valei-me nestes apuros; valei-me lá do céu, onde estais, como me valíeis cá na Terra.
- Isaura, - disse Leôncio com voz áspera apontando para os instrumentos de suplício, - eis ali o que te espera, se persistes em teu louco emperramento. Nada mais tenho a dizer-te; deixo-te livre ainda, e fica-te o resto do dia para refletires. Tens de escolher entre o meu amor e o meu ódio. Qualquer dos dois, tu bem sabes, são violentos e poderosos. Adeus!...
Quando Isaura sentiu que seu senhor se havia ausentado, ergueu o rosto, e levantando ao céu os olhos e as mãos juntas, dirigiu à Rainha dos anjos a seguinte fervorosa prece, exalada entre soluços do mais íntimo de sua alma:
- Virgem senhora da Piedade, Santíssima Mãe de Deus!... vós sabeis se eu sou inocente, e se mereço tão cruel tratamento. Socorrei-me neste transe aflitivo, porque neste mundo ninguém pode valer-me. Livrai-me das garras de um algoz, que ameaça não só a minha vida, como a minha inocência e honestidade. Iluminai-lhe o espírito e infundi-lhe no coração brandura e misericórdia para que se compadeça de sua infeliz cativa.