Quero já apresentar-lhes D. Elvira para desvanecer de uma vez para sempre as injuriosas apreensões, que ainda há pouco nutriam a respeito do ente o mais belo e mais puro, que existe debaixo do Sol, se bem que estou certo que só com a simples vista ficaram penetrados de assombro até a medula dos ossos.
Os quatro cavalheiros retiraram-se e desapareceram no meio do turbilhão das salas interiores. Foram, porém, imediatamente substituídos por um grupo de lindas e elegantes moças, que cintilantes de sedas e pedrarias como um bando de aves-do-paraíso, passeavam conversando. O assunto da palestra era também D. Elvira; mas o diapasão era totalmente diverso, e em nada se harmonizava com o da conversação dos rapazes. Nenhum mal nos fará escutá-las por alguns instantes.
- Você não saberá dizer-nos, D. Adelaide, quem é aquela moça, que ainda há pouco entrou na sala pelo braço do senhor Álvaro?
- Não, D. Laura; é a primeira vez que a vejo, parece-me que não é desta terra.
- Decerto; que ar espantado tem ela!... parece uma matuta, que nunca pisou em um salão de baile; não acha, D. Rosalina?
- Sem dúvida!.., e você não reparou na toilette dela?... meu Deus!... que pobreza! a minha mucama tem melhor gosto para se trajar. Aqui a D. Emília é que talvez saiba quem ela é.
- Eu? por quê? é a primeira vez que a vejo, mas o senhor Álvaro já me tinha dado notícias dela, dizendo que era um assombro de beleza. Não vejo nada disso; é bonita, mas não tanto, que assombre.
- Aquele senhor Álvaro sempre é um excêntrico, um esquisito; tudo quanto é novidade o seduz. E onde iria ele escavar aquela pérola, que tanto o traz embasbacado?...
- Veio de arribação lá dos mares do Sul, minha amiga, e a julgar pelas aparências não é de todo má.
- Se não fosse aquela pinta negra, que tem na face, seria mais suportável.
- Pelo contrário, D. Laura; aquele sinal é que ainda lhe dá certa graça particular...