A Escrava Isaura - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 9 / 185

Assim escreveu ao pai, que deu-lhe crédito e o enviou a Paris, donde esperava vê-lo voltar feito um novo Humboldt. Instalado naquele vasto pandemônio do luxo e dos prazeres, Leóncio raras vezes, e só por desfastio, ia ouvir as eloquentes preleções dos exímios professores da época, e nem tampouco era visto nos museus, institutos e bibliotecas. Em compensação era assíduo frequentador do Jardim Mabile, assim como de todos os cafés e teatros mais em voga, e tomara-se um dos mais afamados e elegantes leões dos bulevares. No fim de alguns anos, ora de residência em Paris, ora de giros recreativos pelas águas e pelas principais capitais da Europa, tinha ele tão copiosa e desapiedadamente sangrado a bolsa paterna, que o comendador a despeito de toda a sua condescendência e ternura para com seu único e querido filho, viu-se na necessidade de revocá-lo à sombra dos pátrios lares a fim de evitar uma completa ruína. Mas, mesmo assim, para não magoá-lo colhendo-lhe súbita e rudemente as rédeas na carreira dos desvarios e dissipações, assentou de atraí-lo suavemente acenando-lhe com a perspectiva de um rico e vantajosíssimo casamento.

Leôncio pegou na isca e voltou à pátria um perfeito dândi, gentil e elegante como ninguém, trazendo de suas viagens, em vez de conhecimentos e experiência, enorme dose de fatuidade e petulância e um tão perfeito traquejo da alta sociedade, que o tomaríeis por um príncipe. Mas o pior era que, se trazia o cérebro vazio, voltava com a alma corrompida e o coração estragado por hábitos de devassidão e libertinagem. Alguns bons e generosos instintos, de que o dotara a natureza, haviam-se apagado em seu coração ao roçar de péssimas doutrinas confirmadas por exemplos ainda piores.





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