– Eu cá estou – disse o moleiro, levantando-a a custo, porque ela tinha as mãos recurvas e os braços rijamente hirtos no tronco do salgueiro, como se em ânsias de asfixia se houvesse agarrado nele.
– Isto que foi, Josefa? – perguntou Luís, tomando-a nos braços, e galgando a custo o valado que se esbarrondava cedendo aos pés vacilantes de Luís, molhados pela água que escorria dos vestidos.
A filha de João da Laje, estorcendo-se nos braços do moleiro, dizia com palavras soluçantes:
– Não me leve para casa, pelas almas benditas. Deixe-me deitar na terra, e vá chamar o senhor vigário para me absolver, que eu estou a expedir.
– Tem paciência, moça; aqui não te deixo, que estás toda ensopada em água, e tens a cara a arder... Tu caíste ao rio, Josefa? Que vieste aqui fazer tão de noite?
– Jesus valei-me! Jesus acudi-me! Jesus salvai-me! – murmurava ela perdendo o alento e tiritando em calefrios.
Luís, receando que a convulsa rapariga lhe expirasse nos braços, atirou-a para o ombro direito, e apertou o passo por entre o ervaçal, dizendo ao rapaz que fosse adiante avisar o amo.