– Ó tio Luís! – perguntou o pegureiro – Vossemecê viu aí na Agra da Cruz uma cabra?
– Não a vi, rapaz, mas ouvi-a berrar lá para o rio. Mete aí pela cangosta do Estêvão, e vai pela beira do rio abaixo que a topas lá para a Várzea das Poldras ou na Ínsua.
– Está mesmo indo... – interveio a tia Brites. – Boa hora é esta para um rapazinho se meter à cangosta do Estêvão!
– Então que tem? – Que tem?! Vai perguntá-lo à Zefa do João da Laje que ficou lá tolhida uma noite, e nunca mais teve saúde.
– Sim, sim, tia Brites; você lá sabe desses tolhiços, e eu também sei como as raparigas se tolhem nas cangostas. Tens medo, rapaz?
– Tenho, sim, senhor.
– Espera aí que eu venho já.
E, tangendo os burros que espontavam o tojo dos valados, foi descarregá-los, encheu-lhes a manjedoura de erva, gargalaçou da borracha uma vez de vinho, e voltou onde o esperava o pastor, a quem a tia Brites contava casos vários de almas penadas.
– Vamos lá, pequeno – disse o moleiro. – Conheço bem o teu amo, e sei que ele à conta da cabra, se tiver meio quartilho de aguardente no bucho, é capaz de te quebrar os braços; por isso é que eu ta vou ajudar a procurar. De que tens tu medo, rapaz? É da alma do capitão-mor? Não sejas tolo. As almas boas dos que morrem são de Deus, não fazem mal a ninguém; e as más são do diabo, que as não larga das unhas.