Maria Moisés - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 79 / 86

Ao outro dia, António de Queirós e Meneses, acompanhado do desembargador Fernando Gonçalves Penha e de um tabelião do julgado passaram o Tâmega, em frente da quinta de Santa Eulália. Tiraram pela sineta do portão com força.

Francisco Bragadas, que estava na eira, de barriga ao sol, recozendo os seus oitenta anos, quando ouviu tilintar a sineta, disse a um neto:

– Vai ver quem é. Teremos mais algum enjeitado? Estou a ver quando começa o desaforo de os trazerem mesmo de dia!

Aberta a porta, entraram os três sujeitos. Francisco, para os ver quando subiam por entre a álea de faias e olmos, pôs a mão na testa contra o sol, e disse entre si: “Querem ver que temos penhora na quinta?” E, levantando-se encostado a um forte tanchão de sobro, perguntou:

– Querem alguma coisa?

– É este cavalheiro que quer comprar esta quinta – disse o tabelião.

– Vai dizer isso à senhora, rapaz – mandou Bragadas, com grande tristeza, e acrescentou: – A quinta não se dá por menos de dez mil cruzados.

– Dez mil cruzados! – disse o tabelião espantado.

– Nas hipotecas está avaliada em seis.

– Não quero saber disso; as hipotecas é isto; são dez mil cruzados, livres para a vendedora – resmoneou o ancião.





Os capítulos deste livro