Eu enchia-me de rubor ao olhá-lo e, de vez em quando, perguntava, tristemente: «E se fiquei grávida? Que será, então, de mim? Tranquilizava-me afirmando que me seria fiel enquanto eu lhe guardasse fidelidade e que, visto as coisas terem ido já tão longe (o que, na verdade, nunca fora sua intenção), olharia pela criança, e por mim também, se porventura engravidasse. Isto tornou-nos ousados a ambos. Garanti-lhe que, se houvesse concebido, preferiria morrer por falta de parteira a denunciá-lo como pai da criança, e ele repetiu-me que jamais me faltaria fosse o que fosse se gerasse, de facto, um filho seu. Estes mútuos compromissos venceram os nossos últimos escrúpulos e, depois disso, repetimos o pecado as vezes que nos apeteceu, até que, como eu receara, engravidei.
Quando tive a certeza de que tal se passava e o convenci a ele do mesmo, começámos a pensar na maneira de tratar do assunto e eu propus-lhe que confiássemos o segredo à minha hospedeira e lhe pedíssemos conselho, com o que concordou. Aquela, habituada, como vim a verificar, a tais coisas, ouviu despreocupadamente, afirmou que sempre esperara semelhante resultado e brincou connosco acerca do assunto. Como já disse, era uma velha habituada a tais situações; tomou tudo a seu cargo, encarregou-se de arranjar uma parteira e uma enfermeira nas condições deseja- das, para vencermos a dificuldade sem quebra de reputação, e saiu-se da incumbência muito airosamente.
Quando o fim do tempo se aproximou, quis que o meu amigo partisse para Londres, ou fingisse que partia, e em seguida informou as autoridades da paróquia de que estava em sua casa uma senhora prestes a dar à luz, mas que conhecia muito bem o marido, que disse chamar-se Sir Walter Cleve e ser um cavalheiro muito respeitável, acrescentando que daria todas as informações necessárias, etc.
