Mas, no meio de todo o meu tormento, não me ocorreu uma só vez que era uma mulher casada, esposa de Mr.... , o fanqueiro, e que, embora ele me tivesse deixado pela força das circunstâncias, não tinha autoridade para me libertar do contrato matrimonial nem para me dar a liberdade legal de casar novamente. Portanto, durante todo aquele tempo fora prostituta e adúltera.
Censurei-me amargamente pelas liberdades que tomara, por ter sido uma armadilha para aquele cavalheiro e por ser a principal culpada do nosso pecado. Ele fora misericordiosamente arrebatado ao abismo pelas admoestações do seu espírito, mas eu ficara abandonada, como que esquecida pela graça de Deus e condenada pelo Céu à continuação da minha perversidade.
Atormentada por tais pensamentos, passei quase um mês de tristeza e melancolia e não regressei a Bath, pois não tinha o mínimo desejo de ver a mulher em cuja casa vivera antes - receava, suponho, que me lançasse para novo caminho de pecado, como fizera da outra vez, e, além disso, repugnava-me a ideia de lhe dizer que fora repudiada.
Inquietava-me muito, também, o meu filhinho. Doía-me como a mor- te encarar a hipótese de me separar dele, mas, quando pensei na possibilidade de vir a encontrar-me sem ter meios para o manter, decidi deixá-lo onde estava. Resolvi também, no entanto, conservar-me perto dele, para ter a alegria de o ver sem a preocupação do seu sustento.
Escrevi, por isso, uma breve carta ao meu cavalheiro, dizendo-lhe que obedecera em tudo às suas ordens, menos a de regressar a Bath, na qual não podia pensar por muitas razões; que, apesar de a nossa separação ser uma ferida que jamais sararia no meu peito, achava justa a sua decisão e não pensaria sequer em obstar ao seu arrependimento e penitência.
