Será sempre assim, pois jamais poderá haver sincera e profunda repugnância pelo mal come- tido se continuar vivo o amor que o causou. À aversão pelo pecado juntar-se-á a aversão pelo co-pecador; não se pode esperar outra coisa.
Assim aconteceu no meu caso, embora a educação e o sentimento de justiça deste cavalheiro o impedissem de o revelar. Por isso, percebendo pela minha última carta e por tudo o resto que eu não regressara a Bath e que não recebera uma carta que me mandara, escreveu-me outra do seguinte teor:
Minha Senhora:
Surpreende-me que a minha carta de 8 do mês passado não lhe tenha chegado às mãos; dou-lhe a minha palavra de que a mesma foi entregue na sua residência, à sua criada.
Não preciso de lhe dizer qual foi o meu estado de saúde nos últimos tempos; dir-lhe-ei apenas que, tendo estado à beira da sepultura, me encontro, por inesperada e imerecida mercê do Céu, restabelecido. Não deve estranhar que, no estado em que me encontrei, as nossas desgraçadas relações tenham sido um dos pesos, e não dos menores, que me atormentaram a consciência. Escuso de dizer também que nos devemos arrepender destas coisas, e corrigi-las.
Agradar-me-ia que pensasse em regressar a Bath, e por isso junto cinquenta libras para liquidar as rendas atrasadas e para a viagem, e espero que não se surpreenda por acrescentar que, apenas pelo que atrás disse, e não por qualquer ofensa que me tenha feito, não posso voltar a vê-la. Tomarei conta do pequeno. Deixe-o onde está ou leve-o consigo, como lhe aprouver. Desejo que possa ter pensamentos iguais aos meus e que sejam para seu benefício.
Sou, etc.
Esta carta doeu-me como mil feridas, tanto que não posso descrevê-lo.
A minha própria consciência me atormentava indizivelmente, pois não era cega para o meu pecado, e cheguei a pensar que teria sido menos afrontoso continuar com o meu irmão e viver com ele como esposa, pois nesse caso não houvera crime no nosso casamento, visto nenhum de nós saber a verdade.
