Prometi-lhe que iria e perguntei-lhe onde vivia, em resposta ao que me entregou um cartão e disse:
- Aqui tem, minha senhora, se ousar confiar-me a sua pessoa.
- Creio que posso arriscar-me a confiar-lhe a minha pessoa - repliquei -, pois o senhor tem mulher, como diz, e eu não procuro marido. Além disso, confio-lhe o meu dinheiro; é tudo quanto tenho no mundo e, se o perdesse, não sei que seria de mim.
Disse-me, de brincadeira, algumas palavras amáveis e agradáveis, que me teriam agradado muito se fossem proferidas com sinceridade, e combinámos que estaria em sua casa às 7 horas daquela mesma tarde.
Quando compareci ao encontro, fez-me várias propostas para a colocação do meu dinheiro no banco, de maneira a render qualquer coisa, assim surgia sempre uma ou outra dificuldade que, na sua opinião, tornava o procedimento inseguro. Pareceu-me de uma honestidade tão sincera e desinteressada que comecei a pensar que encontrara, sem dúvida, o homem honesto de que precisava e que não podia entregar-me em melhores mãos. Disse-lhe por isso, com toda a franqueza, que não encontrara ainda homem ou mulher que me merecesse absoluta confiança, mas que o achava tão desinteressadamente preocupado com a minha segurança que de boa vontade lhe confiaria a administração do pouco que tinha se aceitasse ser procurador de uma pobre viúva que não podia pagar-lhe nenhum ordenado.
Sorriu e, levantando-se, saudou-me com grande deferência e disse-me que a minha boa opinião a seu respeito não podia deixar de o desvanecer. Não me enganaria e faria tudo quanto estivesse ao seu alcance para me servir, sem esperar ordenado, mas não podia de maneira nenhuma aceitar uma procuradoria susceptível de o tornar suspeito de interesse próprio e de, no caso da minha morte, lhe arranjar complicações com os meus testamenteiros, o que por nada deste mundo desejava.
