Redargui-lhe que, se eram essas todas as suas objecções, as venceria sem dificuldade e o convenceria de que não havia a mínima razão para elas. Quanto a suspeitar dele, se alguma vez o fizesse, aquele seria o momento mais indicado, antes de colocar os meus bens nas suas mãos, mas, se isso se verificasse em qualquer outra ocasião, ele poderia, simplesmente, desistir e recusar-se a continuar. A respeito de testamenteiros, garantia-lhe que não tinha herdeiros, nem quaisquer parentes em Inglaterra, e que o meu único herdeiro e testamenteiro seria ele próprio, a não ser que o meu estado mudasse antes da minha morte, do que não tinha por enquanto quaisquer perspectivas. Nesse caso, os seus incómodos terminariam a partir do momento em que a minha situação se modificasse. Esclareci, no entanto, que, se continuasse como estava, lhe deixaria tudo quanto possuía, o que ele merecia pela sua fidelidade, da qual nem por um segundo duvidava.
Mudou, acto contínuo, de atitude e perguntou-me por que me inspirava tão grande boa vontade, acrescentando, com um ar muito satisfeito, que gostaria de ser solteiro por minha causa. Sorri-lhe e redargui que, visto não o ser, a minha oferta não traduzia quaisquer desígnios a respeito da sua esposa e que considerava o seu desejo injusto para com a sua mulher.
Volveu-me que estava enganada e explicou:
- Como já lhe disse, minha senhora, tenho mulher e não tenho, e nem mesmo seria pecado da minha parte desejá-la enforcada.
- Ignoro o que a esse respeito se passa consigo, mas, de qualquer modo, não pode deixar de ser pecado desejar a sua mulher morta - afirmei-lhe.
- Já lhe disse que ela é minha mulher e não é - teimou. - A senhora não sabe o que eu sou nem o que ela é.
- Isso é verdade.
