Como trazia ainda outros papéis que não desenrolara, perguntei-lhe o que eram.
- Eis a pergunta que desejava me fizesse! - desenrolou-os e retirou uma caixinha de chagrém, da qual tirou, e me entregou, um belo anel de diamantes.
Não podia recusá-lo, mesmo que tivesse essa intenção, pois meteu-mo no dedo. Fiz-lhe, portanto, uma vénia e aceitei. Em seguida tirou novo anel e disse, guardando-o na algibeira:
- Este é para outra ocasião.
- Consinta que o veja, ao menos - pedi, a sorrir. - Calculo o que seja e creio que está louco.
- Estaria louco se tivesse feito menos do que fiz - afirmou, mas sem mo mostrar.
- Mostre-mo - insisti, pois tinha grande desejo de o ver.
- Espere e veja primeiro isto.
Endireitou o papel, leu-o e, imaginai!, era uma licença para nos casarmos!
- Enlouqueceu?! - exclamei. - Pelo que vejo, estava absolutamente convencido de que eu aceitaria e cederia à primeira palavra, ou então decidido a não aceitar uma negativa.
- A última hipótese é a verdadeira.
- Olhe que talvez se engane...
- Não, não! É capaz de pensar tal coisa? Não me pode recusar, não pode! - E desatou a beijar-me tão violentamente que não consegui livrar-me dele.
Havia uma cama no quarto e, no fogo da paixão, abraçou-me de surpresa, atirou-me para cima dela e, sem deixar de me apertar com força nos braços, mas também sem qualquer sugestão de indecência, suplicou-me que o aceitasse com tantos rogos, argumentos e protestos de afecto, além de jurar que não me largaria enquanto não prometesse desposá-lo, que por fim não tive outro remédio senão dizer:
- Está, de facto, decidido a não ser recusado!
- Estou! Não devo ser recusado, não serei recusado, não posso ser recusado!
- Seja - aquiesci, dando-lhe um pequeno beijo -, nesse caso não será recusado.