A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 190 / 359

Deixe-me levantar.

Ficou tão louco de alegria com o meu consentimento e a maneira como o dera que cheguei a pensar que já nos considerava casados e não esperava pela cerimónia... Mas estava a ser injusta, pois deu-me apenas mais dois ou três beijos e agradeceu-me a generosa aceitação, tão feliz e satisfeito que lhe vi lágrimas nos olhos.

Desviei o rosto, pois tinha os meus também marejados de pranto, e pedi-lhe que me deixasse recolher uns momentos ao meu quarto. Se alguma vez senti verdadeiro remorso pelos passados vinte e quatro anos de vida pecaminosa e abominável, foi naquele instante. «Oh, que felizes que somos por não podermos ler no coração uns dos outros», pensei. E que feliz teria sido eu própria se houvesse sido esposa de um homem tão honesto e tão afectuoso desde o princípio!

«Que criatura abominável eu sou!», pensei de novo. «E como vou ludibriar este inocente cavalheiro! Mal pensa que, depois de se divorciar de uma rameira, se vai lançar nos braços de outra! Longe está de imaginar que desposará uma mulher que dormiu com dois irmãos e teve três filhos do seu próprio irmão! Uma mulher que nasceu em Newgate, de uma mãe que era prostituta e é agora ladra deportada! Uma mulher que se deitou com treze homens e que teve um filho desde a última vez que ele a viu! Pobre cavalheiro, que passo vai dar!» Mas, findas as recriminações, os meus pensamentos mudaram de feição: «Bem, se me tornar sua mulher e se a Deus aprouver conceder-me graça, serei uma esposa fiel e amá-lo-ei de acordo com a sua estranha e extrema paixão por mim; compensá-lo-ei, se for possível, naquilo que ele vir, dos logros e ofensas que lhe inflijo e que ele não vê»

Estava impaciente pela minha saída do quarto, mas, como me demorasse, desceu e foi falar com o estalajadeiro acerca do pastor.





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