Chegámos a uma espécie de acordo, mas, quando estudei atentamente o assunto, verifiquei que tencionavam entrar na loja por arrombamento e, por isso estar fora da minha especialidade, desisti e foram sem mim. Entraram no estabelecimento pela força e arrombaram o local onde os relógios costumavam ficar, mas encontraram apenas um dos relógios de ouro e outro de prata, dos quais se apoderaram e saíram sem dificuldade. Mas a família, alarmada, gritou «Ladrões!» e o homem foi perseguido e apanhado. Quanto à jovem, teve tanta infelicidade que foi igualmente apanhada mais longe e tendo em seu poder os relógios. Mais uma vez escapara por um triz, pois foram ambos condenados e enforcados, visto serem delinquentes com muito cadastro, apesar de tão jovens. Como disse antes, roubavam juntos, dormiam juntos e foram enforcados juntos, terminando a minha nova sociedade.
Redobrei de cautelas por ter escapado tão à justa e ter tido segundo exemplo tão trágico, mas tinha agora novo tentador, que me espicaçava sem tréguas: a minha governanta. A certa altura apresentou-se uma presa de que, por ter sido ela a alvitrá-la, esperava boa fatia; soubera por portas travessas da existência de grande quantidade de renda da Flandres numa casa particular, e, como essa renda estava proibida, tratava-se de bom negócio para qualquer funcionário aduaneiro que conseguisse deitar-lhe a mão. Informou-me pormenorizadamente da quantidade e do lugar onde a mercadoria se encontrava e eu dirigi-me a um funcionário da alfândega e disse-lhe estar disposta a dizer-lhe onde se encontrava determinada quantidade de renda se me garantisse que teria a minha parte na recompensa. Como não podia haver proposta mais justa, o homem concordou e foi comigo e um polícia à casa em questão.
