Claro que tinham ouvido falar muito de mim e esperavam apanhar-me, mas eu escapava-me sempre, quantas vezes quando a fuga parecia impossível!
Um dos maiores perigos em que me encontrava agora residia no facto de ser muito bem conhecida no meio e de alguns dos meus colegas, cujo ódio se devia mais a inveja que a qualquer mal que lhes tivesse feito, começarem a irritar-se por eu escapar sempre, ao passo que eles passavam a vida a serem apanhados e recambiados para Newgate. Foram eles que me puseram a alcunha de «Moll Flanders», que tinha tanta afinidade com o meu verdadeiro nome ou com qualquer dos nomes que adoptara como o branco com o preto, excepto que, já contei, ao acolher-me ao Mint, dissera chamar-me Mrs. Flanders. Mas estes celerados não sabiam, nem eu nunca o soube, como lhes lembrou porem-me tal nome nem que razão tiveram para o fazer.
Não tardei a tomar conhecimento de que alguns dos que eram apanha- dos e levados para Newgate haviam jurado incriminar-me, e, como não ignorava que dois ou três eram muito capazes disso, inquietei-me, como era natural, e fiquei em casa muito tempo. Mas a minha governanta - com a qual eu compartilhava sempre os meus êxitos e cujo papel era seguro, pois, embora partilhasse os lucros, não partilhava os perigos - mostrava-se impaciente por eu levar vida tão inútil e sem proveito, como dizia, e imaginou uma nova maneira de poder sair: vestida de homem. Lançou-me, assim, em nova senda de delitos.
Eu era alta e apresentável, mas tinha um rosto demasiado macio para homem; no entanto, como raramente saía sem ser à noite, passaria bem. Levei, porém, muito tempo para me habituar às roupas masculinas, pois era-me impossível ser ágil, rápida e exímia, como o meu ofício exigia, com um trajo absolutamente contrário à minha natureza.
