Os seus argumentos eram tão lógicos e aceitáveis que o juiz lhe exigiu apenas um juramento em como não recebera nem admitira em sua casa nenhum homem, para o esconder, proteger ou ocultar da justiça. Claro que ela jurou sem dificuldade e foi mandada em paz.
É fácil avaliar o medo que tive em tal ocasião, e a minha governanta nunca mais conseguiu convencer-me a disfarçar-me outra vez, pois disse-lhe que, se o fizesse, certamente me denunciaria.
Quanto ao meu pobre cúmplice, encontrava-se em maus lençóis: levaram-no ao prefeito, este mandou-o prender em Newgate e as pessoas que o tinham apanhado mostraram-se interessadas em processá-lo e em comparecerem no julgamento para o acusarem.
Conseguiu, no entanto, que adiassem a acusação formal com a promessa de denunciar os seus cúmplices e, sobretudo, o homem que participara com ele no roubo. Aliás, fez o possível nesse sentido, indicando-lhe o nome pelo qual me conhecia: Gabriel Spencer. Por aqui se vê o bem que fizera em ocultar-lhe sempre o meu verdadeiro nome e sexo, pois, se ele soubesse, estaria perdida.
Fez tudo quanto pôde para descobrir o tal Gabriel Spencer; descreveu-me, indicou o local onde eu dizia viver e deu todos os pormenores susceptíveis de me identificarem, mas, como eu tivera a sensatez de lhe ocultar o meu sexo, possuía sobre ele uma enorme vantagem e nunca me conseguiu descobrir. Incomodou duas ou três famílias na esperança de me encontrar, mas elas nada sabiam a meu respeito, a não ser que me tinham visto com um indivíduo que desconheciam. Quanto à minha governanta não obstante ter sido ela a reunir-nos, fizera-o por interposta pessoa e, isso, ele nada sabia a seu respeito.
Tudo isto o prejudicou, pois consideraram o facto de ter prometido uma denúncia que não concretizara uma brincadeira com a justiça, o que lhe valeu ser acusado ainda com mais afã pelos comerciantes que o tinham apanhado.
