Como já disse atrás, essas mulheres não pensam no prazer, não têm qualquer inclinação pelos homens com os quais lidam e não passam de objectos passivos interessa- dos apenas no dinheiro. Enquanto, ébrios, eles se entregam aos êxtases do seu prazer pecaminoso, elas aproveitam para lhes meter as mãos nas algibeiras, à procura do que lhes podem apanhar, e eles apercebem-se tanto disso no momento da sua loucura como antes o previram, ao lançarem-se nela.
Certa mulher que conheci foi tão habilidosa com um indivíduo - o qual, na verdade, não merecia melhor sorte - que, enquanto ele se entretinha com ela de outro modo, conseguiu tirar-lhe da algibeira do relógio, onde a escondera com medo de ser roubado, uma bolsa com vinte guinéus, deixando em seu lugar outra com imitações douradas de moedas. No fim o individuo perguntou-lhe: «Não me tiraste a bolsa?» A minha conhecida respondeu-lhe, a brincar, supor que ela não tinha muito a per- der e o cavalheiro levou a mão ao bolsinho do relógio, tacteou com os de- dos a bolsa e tranquilizou-se, mal sabendo que ficara sem o dinheiro. Esta mulher fazia de tal estratagema um negócio, pois trazia na algibeira um relógio de ouro fingido - isto é, um relógio de prata dourada - e uma bolsa de imitações de moedas, na previsão de tais ocasiões, e não duvido que fosse bem sucedida.
Regressei a casa da minha governanta com a referida presa e, quando lhe contei o que se passara, ficou tão comovida que não conteve as lágrimas, só de pensar nos riscos que tal cavalheiro corria sempre que um copo de vinho lhe subia à cabeça.
Ficou, no entanto, encantada com o que lhe apanhei e com a maneira como o «limpei».
- Minha filha - disse-me -, é muito possível que o teu tratamento lhe aproveite mais, para a sua emenda, que todos os sermões que lhe preguem na vida inteira! - E aproveitou, tão verdade como o resto da história ser verdadeira.
