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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 238
» Descrição admirável da doença obscena, que é uma infecção peçonhenta que se mistura no sangue, cujo centro ou fonte está situada no fígado. Por isso, por via da rápida circulação sanguínea, a terrível e repugnante pestilência ataca imediatamente o fígado infecta-o todo e trespassa os órgãos vitais como um dardo.

É verdade que este pobre e descuidado infeliz não corria, a esse respeito, qualquer perigo proveniente de mim, mas, ao princípio, senti-me muito apreensiva quanto ao que eu, pessoalmente, podia correr por via dele. Era, de certo modo, digno de pena, pois parecia bom homem, sem más intenções, um cavalheiro inteligente e bem comportado, simpático e sóbrio, de rosto encantador e tudo quanto podia ser agradável. Infelizmente, porém, bebera de mais na noite anterior, não se deitara, segundo me confessou, era ardente e tinha o sangue de tal sorte incendiado pelo vinho que a razão o abandonou, como que adormecida.

Quanto a mim, o que me interessava era o seu dinheiro e o que lhe pudesse tirar. Depois disso, se arranjasse maneira de o fazer, procederia de modo que chegasse são e salvo junto da família, pois apostaria dez contra um em como tinha uma esposa honesta e virtuosa e filhos inocentes, desejosos do seu bem-estar e que de bom grado o receberiam e cuidariam até se recompor. Com que vergonha e remorso ele recordaria então o sucedido! Como se recriminaria de se haver associado com uma meretriz, recolhida no pior de todos os antros - o claustro -, entre o lixo e lodo da cidade! Como tremeria com medo de ter apanhado a sífilis, com medo de que um dardo lhe tivesse atravessado o fígado, e como se odiaria todas as vezes que recordasse a loucura e a brutalidade da sua libertinagem! Como o atormentaria, se, como eu cria sinceramente, possuía alguns princípios de honra, pensar que, se houvesse apanhado alguma doença - e nada lhe garantia que a não apanhara -, contagiaria a sua pudica e virtuosa esposa e envenenaria o sangue vital da sua posteridade!

Se tais cavalheiros reflectissem, que mais não fosse, nos pensamentos desprezíveis que as próprias mulheres que os acompanham nessas aventuras têm a seu respeito, sentir-se-iam nauseados.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
Página atual: 238

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7