Mas talvez possa servi-lo ainda mais, pois não estou aqui apenas para lhe dizer que tenho conhecimento de tais coisas, como se pretendesse um suborno para as ocultar. Afirmo-lhe, mais uma vez, que, seja o que for que julgue conveniente dizer-me ou fazer, será um segredo tão grande como se eu própria já estivesse no túmulo.
Surpreendido com tal discurso, o cavalheiro disse-lhe, gravemente: - Minha senhora, não a conheço, mas lamento muitíssimo que esteja ao corrente da pior acção da minha vida, uma acção de que me envergonho tanto que a minha única satisfação era pensar que só Deus e a minha consciência dela tinham conhecimento.
- Suplico-lhe, senhor, que não considere o facto de eu estar ao corrente dela parte do seu infortúnio. Creio que foi apanhado de surpresa e não me admiraria se a mulher se houvesse servido de qualquer artifício para o arrastar para tal procedimento. Seja como for, jamais terá motivo para la- mentar que eu tenha vindo a saber, pois nem a sua própria boca poderá ser mais calada, a esse respeito, do que a minha foi até agora e será sempre.
- Pois sim, mas deixe-me também fazer alguma justiça à mulher em questão - volveu o cavalheiro. - Seja ela quem for, asseguro-lhe que não me incitou a nada, não usou de quaisquer artifícios e, pelo contrário, até me repeliu. Foi a minha própria loucura e estupidez que me arrastaram para tal aventura, e a ela também; devo ser justo a este respeito. Quanto ao que me tirou, não podia esperar menos da sua parte, no estado em que me encontrava, e, além disso, ainda não sei se foi ela ou o cocheiro. Se foi ela, perdoo-lhe e acho, até, que todos os cavalheiros que fazem o que fiz não merecem outro tratamento. Aliás, preocupam-me muito mais outras coisas do que tudo quanto me levou.
