Garantiu-lhe que, como o que tinha a dizer-lhe era um segredo que só a ele pertencia, continuaria a ser um segredo para todos, a não ser que ele próprio o revelasse, quer a proposta fosse aceite, quer não. A recusa também não implicaria, de modo nenhum, o mínimo prejuízo para ele por parte dela, e por isso tinha inteira liberdade de resolver como lhe parecesse conveniente.
Ao princípio mostrou-se muito relutante e declarou não saber nada relacionado consigo que exigisse tanto segredo, que nunca fizera mal a ninguém e não se importava com o que dele pudessem dizer, que não estava no seu temperamento ser injusto para com quem quer que fosse nem imaginava em que sentido poderia alguém prestar-lhe qualquer serviço; mas, se esse serviço era tão desinteressado como ela pretendia, não levaria a mal a ninguém que tentasse ser-lhe útil. Portanto, deixava-lhe a liberdade de lhe dizer ou não dizer de que se tratava, como lhe parecesse conveniente.
A minha governanta achou-o tão indiferente que chegou a recear abordar o assunto. Mas, após alguns circunlóquios, disse-lhe que, por singular e inesperado acaso, tivera, por vias particulares, conhecimento da sua recente e infeliz aventura, e de tal maneira que ninguém no mundo, além dela própria e dele, tinha um completo conhecimento do que sucedera. Nem «a outra pessoa» sabia quem ele era.
- Que aventura? - perguntou-lhe, um pouco irritado.
- A de ter sido roubado no regresso de Knightsbr..., ou, melhor, creio que devo dizer Hampstead. Não se surpreenda, senhor, por poder referir- -lhe todos os passos que deu nesse dia, do claustro de Smithfield ao Spring Garden, em Knightsbridge, e daí a..., no Strand, e como depois foi abandonado a dormir na carruagem. Não se surpreenda, repito, pois não vim extorquir-lhe nada; não lhe peço seja o que for e a mulher que esteve consigo ignora, garanto-lhe, quem o senhor é e continuará a ignorá-lo.
