- Lamentaria muito perder o seu dinheiro, senhor - redargui, mas fui acrescentando: - Costumo ter sorte, mas os cavalheiros jogam paradas muito altas e, por isso, não ouso arriscar-me.
- Aqui tem dez guinéus, minha senhora - replicou o homem. - Jogue-os por mim.
Aceitei o dinheiro e joguei, sob as suas vistas. Joguei nove guinéus por várias vezes, em paradas de um e de dois, e, quando o copo chegou ao homem que estava ao meu lado, o primeiro cavalheiro deu-me mais dez guinéus e mandou-me jogar cinco de uma vez. O homem lançou os dados e ganhámos cinco guinéus. Encorajado por isso, o cavalheiro obrigou-me a aceitar o copo, o que foi arriscado. Fiquei tanto tempo com ele que recuperei todo o seu dinheiro e juntei um punhado de guinéus no regaço e, melhor ainda, quando lancei, fi-lo apenas contra um ou dois dos que tinham apostado comigo e foi fácil.
Nessa altura ofereci ao cavalheiro o ouro todo, pois era seu, e pedi-lhe que jogasse ele mesmo, com o pretexto de não perceber muito bem o jogo. Riu-se e redarguiu-me que, se tivesse sorte, não importava que compreendesse ou não, o que importava era continuar. Retirou os quinze guinéus com que havia entrado e convidou-me a jogar com o resto. Pedi-lhe que visse quanto já ganhara, mas apressou-se a responder:
- Não, não! Tenho a certeza de que é muito honesta e dá azar contar os ganhos.
Continuei, pois, a jogar. Claro que percebia bem o jogo, embora fingisse o contrário, e jogava com cautela. Convinha-me conservar uma boa quantia no regaço, da qual de vez em quando retirava umas moedas para a minha algibeira, mas de tal maneira e em momentos tão convenientes que ele não dava por nada.
Joguei durante muito tempo, sempre com sorte, mas da última vez que tive o copo jogaram alto e eu arrisquei ousadamente.
