Mas não sei que mau destino me guiava, pois mostrava-me agora tão relutante como ela quando antes lho propusera, e assim, numa hora má desistimos, de momento, da ideia, e eu tornei-me mais audaciosa e mais endurecida que nunca. Graças ao meus êxitos, o meu nome era tão famoso em New- gate e em Old Bailey como o dos mais famosos ladrões que jamais houvera.
Ousara, algumas vezes, repetir o mesmo jogo, procedimento contrário à boa prática, mas que, no entanto, resultou sem complicações. Geralmente, porém, inventava novos estratagemas e lograva-criar novas figuras de cada vez que saía.
Numa altura do ano em que a maioria dos fidalgos partiam da cidade, Tunbridge, Epsom e outros lugares semelhantes enchiam-se de gente, a capital ficava quase deserta e o nosso comércio ressentia-se um pouco, assim como os outros. Por isso, na última parte do ano reuni-me a um bando que costumava ir todos os anos à feira de Stourbridge e, daí, à de Bury, em Suffolk. Tínhamos grandes esperanças, mas, quando chegámos e vi em que pé as coisas estavam, não tardei a aborrecer-me, pois pouco havia que valesse a pena, afora o roubo de carteiras. Além disso, mesmo quando se conseguia uma presa, surgiam dificuldades para o seu transporte e não era tão fácil dispor dela como em Londres. A única coisa que consegui em toda a viagem foi um relógio de ouro na feira de Bury e um pequeno volume de tecidos em Cambridge, o que me ofereceu ensejo para abandonar o local. O truque que empreguei era velho, mas pareceu-me que daria resultado com um lojista provinciano, embora em Londres não resultasse.
Comprei numa loja de panos - não na feira, mas na cidade de Cambridge - bom linho holandês e outros artigos no valor aproximado de sete libras, pedindo que mos enviassem a tal estalagem, onde me instalara propositadamente naquela mesma manhã, como se fosse minha intenção passar lá a noite.