Recomendei ao lojista que me entregasse as mercadorias mais ou me- nos a tal hora, na estalagem onde me encontrava e onde lhe pagaria o valor da compra. O homem mandou a encomenda à hora aprazada e, entretanto, eu colocara à porta do quarto uma componente do bando. Quando a criada da estalagem chegou com o moço, um ajudante do fanqueiro, a minha colega disse-lhe que a ama estava a dormir, mas que podia deixar as coisas e voltar daí a uma hora, para receber. O rapaz deixou os tecidos sem hesitar e, passada cerca de meia hora, eu e a minha criada abandonámos a estalagem e, naquela mesma noite, aluguei um cavalo e contratei um homem para cavalgar à minha frente, parti para Newmarket e aí comprei passagem numa diligência para St. Edmund's Bury, onde, como já disse, pouco consegui: apenas logrei roubar um relógio de ouro num teatro, a uma dama que estava não só intoleravelmente alegre, mas também, segundo me pareceu, um nadinha ébria, o que facilitou muito o meu trabalho.
Segui para Ipswich com esse pouco e, daí, para Harwich, onde fui para uma estalagem, como se tivesse acabado de chegar da Holanda, convencida de que conseguiria apanhar qualquer coisa aos estrangeiros que ali desembarcavam. Verifiquei, porém, que, regra geral, não traziam nada de valor, excepto nas malas de viagem e nos cestos holandeses, geralmente guardados por lacaios. Apesar disso, uma tarde consegui tirar uma dessas malas do quarto de um cavalheiro cujo criado dormia a sono solto, na cama, creio que muito bêbado.
O quarto do holandês ficava ao lado do meu e, depois de arrastar a pesada mala de um para o outro, com muito esforço, fui à rua ver se teria alguma possibilidade de a levar. Andei muito, mas não achei maneira de tirar a mala da estalagem nem de me desfazer das mercadorias que continha, se a abrisse, pois a cidade era muito pequena e eu inteiramente desconhecida.
