A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 334 / 359

Era uma tão grande prova de confiança em nós que, comovidíssimo, e por um mero princípio de gratidão, o meu marido lhe disse que, em vista de ter a certeza de que jamais lhe poderia pagar tal favor, não se atrevia a aceitá-lo nem se sentiria em paz com a sua consciência se soubesse que o capitão corria tão grande risco. Após uma troca de delicadezas, dei ao meu marido uma bolsa com oitenta guinéus e ele entregou-a ao capitão, dizendo-lhe:

- Aqui tem, senhor, uma garantia da nossa fidelidade para consigo.

Se procedermos desonestamente a seu respeito seja no que for, esse dinheiro será seu.

E com essa garantia fomos a terra.

O capitão possuía, aliás, provas suficientes da nossa resolução de seguirmos viagem, visto não ser lógico que, depois de termos feito tantas despesas para nos fixarmos na Virgínia, decidíssemos ficar em terra com risco de vida, pois, se fôssemos capturados, não escaparíamos à morte. Numa palavra, fomos a terra com ele, jantámos juntos em Gravesend, onde nos divertimos muito, ficámos toda a noite na casa onde jantámos e regressámos honestamente a bordo, de manhã, com ele. Aproveitámos o ensejo para comprar dez dúzias de garrafas de boa cerveja, algum vinho e alguma criação, além de outras coisas que achámos poderiam ser úteis a bordo.

A minha governanta passou connosco esses momentos e acompanhou-nos às Downs, assim como a esposa do capitão, com a qual regressou depois. Não me custara tanto separar-me da minha própria mãe como me custou separar-me dela, e nunca mais a vi. No terceiro dia depois de chegarmos às Downs começou a soprar vento de leste e levantámos ferro no dia 10 de Abril. Nunca mais tocámos em nenhum porto até que, impelidos para a costa da Irlanda por forte ventania, ancorámos numa baiazinha perto da embocadura de um rio cujo nome esqueci, mas que diziam vir de Limerick e ser o maior da Irlanda.