Perguntou-me, por fim, se podia tocar flauta, para me entreter, mas a irmã lembrou-lhe que me faria mal à cabeça. Fiz uma vénia, disse que não me faria mal e acrescentei:
- Por favor, senhora, deixe-o tocar; gosto muito da música de flauta.
- Toca, então - disse ela ao irmão.
- Querida irmã - respondeu ele, tirando da algibeira a chave do seu gabinete -, sinto-me muito preguiçoso. Vai, por favor, ao meu gabinete e traz-me a flauta, que está em tal gaveta... - e indicou um lugar onde tinha a certeza de que a flauta não se encontrava, para que a irmã se de- morasse a procurá-la.
Assim que ela saiu, relatou-me a conversa do irmão a meu respeito e, como dissera às irmãs que o interrogassem a ele, confessou-me que fora a sua preocupação por tudo isso que o levara a forçar aquela visita. Garanti-lhe que não abrira a boca, nem para o irmão nem para ninguém, chamei a sua atenção para as tristes circunstâncias em que me encontrava e afirmei-lhe que o meu amor por ele e o seu conselho de que esquecesse esse afecto e o transferisse para outro me tinham posto naquele estado. Acrescentei que desejaria mil vezes morrer, para não ter de enfrentar de novo a situação em que antes me encontrara, e que essa cobardia perante a vida era o grande motivo da lentidão da minha convalescença. Disse ainda ter o pressentimento de que, tão depressa estivesse boa, me expulsariam da família e afirmei-lhe que, quanto a desposar o irmão, não podia pensar em tal depois do que se passara entre nós e nunca mais falaria com Robin a esse respeito. Se queria quebrar todos os votos, juramentos e compromissos que o ligavam a mim, isso ficaria entre a sua consciência, a sua honra e ele próprio; mas nunca poderia dizer que eu, que persuadira a considerar-me sua mulher e que lhe dera a liberdade de como tal me usar, não lhe era tão fiel quanto uma esposa deve ser, fosse ele o que fosse para num.