Respondeu-me que lamentava ser impossível convencer-me e ia a acrescentar mais qualquer coisa, mas ouviu a irmã subir a escada e calou-se. Disse-lhe ainda, à guisa de resposta, que jamais poderiam convencer-me a desposar um irmão amando o outro, e ele abanou a cabeça ao ouvir as minhas palavras e murmurou:
- Então estou arruinado.
Nesse momento a irmã entrou no quarto e disse-lhe que não encontrara a flauta.
- Bem, tenho de esquecer a preguiça - comentou alegremente, levantando-se e indo ele próprio buscá-la.
Mas voltou sem ela, não por ignorar onde se encontrava, mas porque tinha o espírito um pouco perturbado e não lhe apetecia tocar. Além disso, o recado de que encarregara a irmã permitira-lhe falar-me a sós, como desejava, mas os resultados não tinham sido muito satisfatórios.
Eu estava, porém, satisfeita por ter podido dizer-lhe, sem peias e com toda a franqueza, o que pensava e, embora os resultados não tivessem sido os que ambicionava - isto é, prendê-lo mais a mim -, tirara-lhe a possibilidade de me abandonar, a não ser por inequívoca falta à palavra de honra que me dera e à fé de cavalheiro que tantas vezes empenhará ao jurar que não me abandonaria e faria de mim sua esposa assim que recebesse a sua herança.
Poucas semanas depois desta conversa andava de novo pela casa e começava a melhorar, mas continuava melancólica, silenciosa, triste e reservada, o que intrigava toda a família, excepto aquele que conhecia as razões do meu estado de espírito. Todavia, só passado muito tempo demonstrou notá-lo, e eu, tão avessa a falar como ele, tratava-o respeitosamente e jamais pronunciei uma palavra de significado íntimo, fosse de que espécie fosse. As coisas continuaram assim durante dezasseis ou dezassete semanas, durante as quais esperei, todos os dias, ser despedida de casa por motivos de que não era culpada e que geravam más vontades injustas contra mim.
