Aí tive toda a liberdade e oportunidade de ser alegre e acompanhar com quem desejava, pois a irmã do meu senhorio era uma das criaturas mais alegres e estouvadas que conhecia e menos zelosa da sua virtude do que eu a princípio supusera. Apresentou-me a uma sociedade turbulenta e chegou a levar a casa várias pessoas a quem queria agradar, para que vissem a sua viúva bonita, nome que gostava de chamar-me e pelo qual não tardei a ser conhecida em público. Graças a tudo isso, fui maravilhosamente acarinhada e não me faltaram admiradores e alguns que se diziam namorados, mas nenhuma das propostas que me fizeram me pareceu razoável. Percebia muito bem os seus desígnios comuns e não me deixei arrastar para mais armadilhas daquela espécie. O caso mudara de figura no que me dizia respeito, pois agora possuía dinheiro na algibeira e não tinha satisfações a dar a ninguém. Fora ludibriada uma vez por esse logro chamado amor, mas a brincadeira acabara e comigo, agora, ou casa- mento, ou nada - e no primeiro caso só me interessava um bom casa- mento.
Agradava-me deveras a companhia de homens inteligentes e joviais, galantes e de boa figura, e tinha-a muitas vezes, assim como a de outros, mas aprendi, graças a uma observação atenta, que os homens mais brilhantes tinham as intenções mais estúpidas - no que me respeitava, entenda-se - e que, por outro lado, as melhores propostas partiam dos mais lerdos e enfadonhos. Não era avessa a aceitar um negociante, mas queria. que fosse também, de certo modo, um cavalheiro, que, quando lhe apetecesse levar-me à corte ou ao teatro, a espada lhe ficasse bem e ele parecesse tão gentil-homem como qualquer outro, sem os vincos das fitas do avental na casaca ou a marca do chapéu na peruca, que a espada lhe assentasse como se fosse posta nele, e não ao contrário, e não tivesse estampada na fisionomia a sua profissão.
