Tinha as quinhentas libras que o primogénito me oferecera pelo meu consentimento em desposar o irmão mais novo, e isso, com o que poupara do que anteriormente me dera e quase outro tanto do mau marido, fez de mim uma viúva com mil e duzentas libras na algibeira.
Os meus dois filhos foram alegremente recolhidos pelos pais do meu marido, e isso foi, diga-se de passagem, tudo quanto obtiveram de Mrs. Betty.
Confesso que a perda do meu marido me não afectou tanto quanto seria de esperar, assim como nunca o amei como devia nem como ele merecia pelo bom tratamento que me deu, pois era um homem terno, gene- roso e alegre como qualquer mulher podia desejar. Mas eu tinha o irmão sempre presente no meu espírito, pelo menos enquanto vivemos no campo, e nunca me deitava com meu marido que não desejasse estar nos braços do outro; e, embora este, depois do meu casamento, nunca tivesse para mim o mínimo gesto duvidoso e me tratasse como se eu fosse sua irmã, era-me impossível lidar com ele como se lida com um irmão. Em resumo, cometi adultério e incesto com ele todos os dias, nos meus desejos, o que, sem dúvida, constituiu pecado tão grande como se o acto se tivesse, na realidade, verificado.
Antes de meu marido morrer o irmão casou-se e, como nos encontrávamos em Londres, a mãe escreveu-nos a convidar-nos para a boda. Meu marido foi, mas eu aleguei uma indisposição que me impossibilitaria de viajar e fiquei em casa, pois não suportaria vê-lo entregar-se a outra mulher, embora soubesse que nunca o teria.
Encontrei-me, pois, livre e, sendo ainda nova e bonita, como toda a gente dizia e como, asseguro-vos, me julgava, e para mais com uma for- tuna razoável, não me atribuía pouco valor. Fui cortejada por vários negociantes de importância e, sobretudo, ardorosamente, por um fanqueiro em cuja casa me alojara, aquando da minha viuvez, em virtude de a sua irmã ser minha conhecida.
