Passado algum tempo, quando me falava de determinada pessoa que fora deportada havia apenas semanas, pedi-lhe que me dissesse alguma coisa da sua própria história, o que fez com a maior simplicidade e sinceridade. Contou-me que, ainda muito nova, se juntara a más companhias, em Londres, em virtude de a mãe a mandar muitas vezes levar comida e outras coisas a uma sua parenta presa em Newgate, a qual se encontrava numa situação desgraçada, morrendo de fome, e fora depois condenada à forca, mas que beneficiara de um indulto por estar grávida e viera morrer na prisão.
A minha sogra discorreu longamente acerca das coisas terríveis que se passavam naquele pavoroso lugar e que contribuíam para desgraçar mais jovens que todo o resto da cidade.
- Minha filha - continuou -, talvez saibas pouco a tal respeito ou não tenhas, sequer, ouvido falar no caso, mas, acredita, aqui todos sabemos que há mais ladrões e tratantes feitos por aquela prisão de Newgate que por todos os clubes e sociedades de celerados do pais; metade da população desta colónia vem daquela maldita cadeia.
Reatou então a sua própria história, com tantos pormenores e de maneira tão especial que comecei a sentir-me muito inquieta; quando chegou, então, a altura de me dizer o seu nome, julguei que ia desmaiar. Percebeu que não me sentia bem e perguntou-me o que tinha, mas respondi-lhe que me comovera a tristeza da história que me contara e as terríveis provações, que passara, pedindo-lhe que não falasse mais no assunto.
- Mas, minha querida, por que hão-de estas coisas incomodar-te? - perguntou-me ternamente. - Passaram-se muito antes de tu nasceres e, agora, não me perturbam nada. Pelo contrário, recordo-as, até, com uma certa satisfação, pois foi graças a elas que vim parar a esta terra.