Entretanto, e disso tinha perfeita consciência, vivia em incesto reconhecido e em mancebia, sob a aparência de esposa honesta, e, embora o crime em si não me perturbasse muito, o acto tinha qualquer coisa de antinatural e tornava-me o meu marido, como ele ainda se julgava, repugnante.
Contudo, depois de muito reflectir, concluí ser absolutamente necessário calar-me e não revelar a mínima coisa tal respeito, quer a minha mãe, quer a meu marido. Assim vivi durante mais três anos, num estado de tensão inconcebível, mas não tive mais filhos.
Durante esse ínterim minha mãe costumava contar-me velhas histórias das suas antigas aventuras, as quais nada tinham de agradável para mim; por elas, embora não mo dissesse claramente, compreendi sem dificuldade, relacionando-as com o que ouvira dizer a seu respeito aos meus primeiros tutores, que na sua juventude fora cortesã e ladra. Acredito, porém, que se arrependera sinceramente de ambos os delitos e se transformara numa mulher muito caridosa, honesta e religiosa.
Mas, tivesse ela sido o que quer que fosse, o certo é que a minha vida se tornara insuportável, pois vivia, como já disse, na pior espécie de mancebia, e, como nada de bom podia esperar de tal estado de coisas, nada de bom aconteceu de facto; toda a minha aparente prosperidade se desvaneceu e acabou em miséria e ruína.