Prometera-mo, sem dúvida, mas não estava certo de que o desejasse; seria ruinoso para os seus negócios, desorganizaria a sua família e deixá-lo-ia muito mal colocado perante o mundo. Não devia, portanto, exigir-lho, pois nenhuma mulher que prezasse a sua família e a prosperidade do marido insistiria em semelhante teimosia.
Fiquei abalada, como é de calcular, mas, quando pensava calmamente no assunto e via o meu marido como na realidade era, um homem diligente e trabalhador, empenhado em preparar uma fortuna para os filhos e ignorando absolutamente as terríveis circunstâncias em que me encontrava, tinha por força de confessar a mim mesma que a minha exigência era injusta e imprópria de uma mulher que tomasse a peito o bem da sua família.
O meu descontentamento era, todavia, de natureza diferente; já não o considerava marido, mas parente chegado, filho da minha própria mãe, e estava resolvida a separar-me dele fosse como fosse, embora não fizesse a mínima ideia de como levaria a cabo tal empreendimento que na verdade me parecia impossível.
Os mal-intencionados dizem que nós, as mulheres, somos incapazes de mudar de resolução quando se nos mete uma ideia na cabeça, e a verdade é que eu não deixava de pensar e repensar na maneira de fazer a viagem que intentava, a tal ponto que propus ao meu marido partir sem ele. Ficou fora de si e disse-me que, além de esposa cruel, era também mãe desnaturada, pois podia abrigar sem horror o pensamento de deixar os meus dois filhos (um morrera) sem mãe, entregues aos cuidados de estranhos, e de nunca mais os ver. De facto, se as coisas fossem o que deviam ser, jamais me podia ocorrer tal ideia, mas, nas circunstâncias em que me encontrava, desejava do fundo do coração nunca mais os ver, nem a eles nem a ele.
