Por fim vomitou e teve de ser metido na cama e, de manhã, encontrava-se com uma febre altíssima, como aliás acontecera toda a noite.
Refez-se, contudo, ainda que lentamente, e, quando se encontrava já um pouco melhor, afirmou-me que lhe vibrara um golpe mortal com o que lhe dissera e que tinha apenas uma coisa a pedir antes de desejar uma explicação. Interrompi-o para lhe asseverar que lamentava ter ido tão longe, em virtude do mal que lhe causara, mas que desejava que não falasse em explicações, pois isso tornaria tudo pior.
As minhas palavras aumentaram a sua impaciência e intrigaram-no de maneira insuportável, pois começava a suspeitar de que havia qualquer mistério não aclarado e de cujos pormenores não fazia a mínima ideia. A única coisa que lhe ocorria era que eu tinha outro marido vivo - o que eu não podia garantir que fosse mentira. Respondi-lhe, no entanto, que não se tratava de tal coisa e, na realidade, o meu outro marido estava legalmente morto para mim e dissera-me que assim o devia considerar, pelo que não tinha a mínima preocupação a esse respeito.
As coisas tinham ido, porém, demasiado longe para que eu continuasse a guardar segredo durante muito mais tempo, e foi o meu próprio marido que me proporcionou o ensejo de desabafar, com grande satisfação minha. Durante três ou quatro semanas insistira em vão comigo para que lhe dissesse se as palavras que proferira tinham sido ditadas apenas pela cólera, e para o irritar, ou se, no fundo, tinham alguma verdade. Mas mantive-me inflexível e não expliquei nada, afirmando que só o faria se, primeiro, consentisse no meu regresso a Inglaterra, o que, garantiu, jamais permitiria enquanto vivesse. Acrescentei que estava na minha mão levá-lo a dar esse consentimento, e de boa vontade, quando me aprouvesse, e até a rogar-me que partisse, o que espicaçou a sua curiosidade e aumentou a sua insistência, embora baldadamente.
