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Capítulo 1: Capítulo 1

Página 16
Estas palavras, como os reclamos demasiado grandes nas ruas, escapam à observação por serem demasiado evidentes; e, aqui, a inatenção material é precisamente análoga à inatenção moral de um espírito que deixa escapar as considerações demasiado palpáveis, evidentes e importunas. Mas isto é um ponto que parece estar de certo modo acima ou abaixo da inteligência do prefeito. Este nunca julgou provável ou possível que o ministro guardasse a carta debaixo do nariz de toda a gente como para melhor impedir qualquer pessoa de dar por ela.

»Quanto mais pensava no espírito audacioso, brilhante e atrevido de D..., no facto de que ele devia ter a carta sempre à mão para a usar logo que fosse necessário, e na prova decisiva fornecida pelo prefeito que aquela não estava escondida nos limites da busca vulgar levada a cabo pelo nosso funcionário, mais me convencia de que, para esconder a carta, o ministro recorrera ao expediente sagaz de não tentar sequer escondê-la.

»Assim convencido, muni-me de um par de óculos escuros e um belo dia apresentei-me como que por acaso na residência do ministro. Encontrei D... em casa, bocejando, arrastando-se e, como de costume, fazendo de conta que se sentia mortalmente aborrecido. D... é talvez o homem mais realmente enérgico que existe à face da terra, mas só quando ninguém o está a ver.

»Para não lhe ficar atrás, queixei-me da fraqueza dos meus olhos, que me obrigava, lamentavelmente, a usar óculos, a coberto dos quais examinei cuidadosa e minuciosamente a sala enquanto seguia aparentemente interessado a conversa do meu anfitrião.

»Dediquei uma atenção especial a uma grande escrivaninha perto da qual estávamos sentados e sobre a qual se encontrava uma miscelânea confusa de cartas e outros papéis juntamente com um ou dois instrumentos de música e alguns livros. Contudo, depois de uma inspecção aturada não vi aqui nada que me pudesse levantar suspeitas.

»Finalmente os meus olhos, ao darem a volta à sala, detiveram-se num porta-cartas de papelão ornado de lantejoulas pendurado com uma fita azul suja num prego de latão espetado na parede, mesmo ao lado do fogão de sala.

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Capa do livro A Carta Roubada
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