- Oh, não! Nada disso! O facto é que o assunto é muito simples, muito simples mesmo, e não duvido que nós próprios o possamos resolver perfeitamente; mas pensei que Dupin gostasse de o conhecer em pormenor porque é tão excessivamente bizarro!
- Simples e bizarro - disse Dupin.
- É isso mesmo; e por outro lado não é nada disso. O facto é que ficámos todos bastante confusos porque se trata de um caso tão simples e que apesar disso não lhe encontramos solução.
- Talvez seja a própria simplicidade que os deixa embaraçados - disse o meu amigo.
- Que disparates o senhor diz! - respondeu o prefeito rindo alegremente.
- Talvez o mistério seja demasiado evidente - disse Dupin.
- Deus do Céu! Quem já ouviu falar em tal?
- Demasiado claro!
- Ah! ah! ah!... Ah! ah! ah!... Oh! oh! oh! - gargalhou o nosso hóspede divertidíssimo. - Ah, Dupin, você ainda me há-de fazer morrer de riso!
- Mas, no fim de contas, de que caso se trata? - perguntei.
- Bom, vou dizer-lhes - respondeu o prefeito, soprando uma longa e contemplativa fumaça e recostando-se na cadeira. - Vou resumi-lo em poucas palavras. Mas antes de começar deixem-me avisá-los de que este caso requer o máximo segredo e que provavelmente perderia o lugar que agora ocupo se se viesse a saber que o confiei a quem quer que seja.
- Comece - disse eu.
- Ou então não comece - disse Dupin.
- Ora bem; fui informado particularmente, e por alguém altamente colocado, que um certo documento da maior importância foi roubado dos aposentos reais. Sabe-se quem o roubou; aí não há dúvidas. Alguém o viu tirá-lo. Também se sabe que o objecto continua nas suas mãos.
- Como é que se sabe isso? - perguntou Dupin.
- Deduz-se claramente - replicou o prefeito - da natureza do documento e do não aparecimento de certos resultados que surgiriam inevitavelmente se o documento saísse das mãos do ladrão; ou seja se fosse utilizado como ele deve tencionar utilizá-lo.
- Explique-se melhor - disse eu.