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Capítulo 1: A verdade no caso do Sr. Valdemar

Página 8
Ao mesmo tempo o lábio superior arreganhou-se sobre os dentes que até aí cobrira por completo; enquanto o maxilar inferior caía com um claque audível, deixando a boca muito aberta e mostrando claramente a língua inchada e negra. Suponho que para nenhuma das pessoas presentes os horrores do leito de morte eram um espectáculo invulgar; mas tão medonho era nessa altura o aspecto do Sr. Valdemar que houve um movimento de recuo geral e todos se afastaram da cama.

Julgo que cheguei agora a um ponto nesta narrativa em que nenhum leitor conseguirá já acreditar. É, porém, a minha obrigação continuar.

Não havia já o menor sinal de vida no Sr. Valdemar; e concluindo que estava morto íamos entregá-lo aos cuidados dos enfermeiros quando observámos que a língua se agitava numa forte vibração. Esta manteve-se durante talvez um minuto. Expirado este período brotou das maxilas abertas e imóveis uma voz - tal que seria loucura da minha parte tentar descrevê-la. Há, na verdade, dois ou três epítetos que se lhe poderiam aplicar em parte; poderia dizer, por exemplo, que era um som áspero, quebrado e cavo; mas o horror total era indescritível pela simples razão que nunca um som semelhante ecoou aos ouvidos da humanidade. Havia dois pormenores, contudo, que, pensei na altura e ainda penso, poderiam caracterizar bastante bem a entoação - poderiam transmitir uma ideia da sua peculiaridade sobrenatural. Em primeiro lugar, a voz parecia chegar aos nossos ouvidos - pelo menos aos meus - vinda de uma vasta distância ou de alguma profunda caverna das entranhas da terra. Em segundo lugar impressionou-me (temo, realmente, que seja impossível fazer-me compreender) como as matérias gelatinosas ou peganhentas impressionam o sentido do tacto.

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Páginas: 11
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Os capítulos deste livro:
A verdade no caso do Sr. Valdemar 1