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Capítulo 1: Ligeia

Página 16
Percorri com olhar inquieto os sarcófagos aos cantos do quarto, as figuras mutáveis das tapeçarias e o bruxulear dos fulgores variegados do turíbulo do tecto. O meu olhar tombou então, ao recordar as circunstâncias de uma noite anterior, no local sob o clarão do turíbulo onde vira os ténues vestígios da sombra. Contudo, já lá não estavam; e, respirando mais desafogadamente, desviei os olhos para a pálida e rígida figura no leito. Assaltaram-me então mil recordações de Ligeia - e logo me invadiu de novo o coração, com o ímpeto turbulento de uma enxurrada, todo aquele indizível sofrimento com que a contemplara a ela assim amortalhada. A noite avançava; eu continuava, porém, com o peito repleto de tristes pensamentos sobre a única e supremamente amada, de olhar fixo no corpo de Rowena. Era talvez meia-noite, ou porventura mais cedo ou mais tarde, pois não prestara atenção ao tempo, quando um suspiro, baixo e ténue, mas bem distinto, me arrancou ao devaneio. Senti que provinha do leito de ébano - do leito da morte. Pus-me à escuta numa agonia de supersticioso terror, mas o som não se repetiu. Esforcei a vista para detectar qualquer movimento do corpo, mas não se registava o mínimo perceptível. No entanto, era impossível que me tivesse enganado: tinha realmente ouvido o rumor, por mais ténue que fosse, e o meu espírito estava bem desperto. Resoluta e perseverantemente, mantive a atenção concentrada no corpo. Passaram-se vários minutos antes que acontecesse qualquer facto passível de esclarecer O mistério. Por fim tornou-se evidente que uma certa coloração, muito leve e dificilmente visível, subira às faces e corria ao longo das cavadas vénulas das pálpebras. No meio de uma espécie de horror e pânico indizíveis, para os quais não existe na linguagem dos mortais expressão suficientemente vigorosa, senti o coração parar e os membros quedarem-se-me rígidos e imóveis.

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Capa do livro Ligeia
Páginas: 20
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Ligeia 1