O Coração Revelador - Cap. 1: O coração revelador Pág. 4 / 7

Estava aberto - aberto, escancarado, e a fúria invadiu-me mal o vi.

Vi-o com uma nitidez perfeita - todo aquele azul baço, coberto com o véu horrível que me gelava até a medula dos meus ossos; mas não consegui ver mais nada do rosto ou do corpo do velho; porque, como que por instinto, apontara o raio de luz precisamente para o ponto maldito.

Lembra-se de eu lhe ter dito que aquilo que tomou por loucura não é senão uma superacuidade dos sentidos? Ora bem, chegou-me então aos ouvidos um som baixo, rápido e abafado, como o de um relógio embrulhado em algodão. Também esse som eu conhecia. Era o bater do coração do velho. Aumentou a minha fúria como o rufar de um tambor estimula a coragem do soldado.

Mas continuei a dominar-me e fiquei muito quieto. Quase não respirava. Mantive a lanterna imóvel. Esforcei-me por não desviar a luz de sobre o olho. Entretanto o pulsar infernal do coração aumentava: cada vez mais rápido, cada vez mais alto. O terror do velho devia ser extremo! O pulsar, dizia, aumentava de minuto a minuto! Está a seguir-me? Já lhe disse que sou nervoso - e de facto sou. E agora, naquela hora morta da noite, no meio do silêncio assustador daquela velha casa, aquele barulho tão estranho lançou-me num terror incontrolável. Consegui, no entanto, dominar-me durante mais alguns minutos e fiquei calmo. Mas o pulsar era cada vez mais alto, cada vez mais alto. Pensei que o coração ia rebentar. E então uma nova ansiedade se apoderou de mim - algum vizinho ia ouvir o barulho! A hora do velho tinha soado! Com um grande uivo abri subitamente a lanterna e precipitei-me para dentro do quarto. O velho deu um grito só um. Num segundo atirei-o ao chão e lancei sobre ele o peso enorme da cama. Sorri então alegremente, ao ver o meu trabalho já tão avançado.





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