Pouco depois ouvimos a sua voz:
- Até onde é p' eciso i' ainda?
- A que altura estás?
- Muito alto - respondeu o negro. - Vejo que o céu at'avés do cocu'uto da á'vo'e,
- Deixa lá o céu e presta atenção ao que eu digo. Olha para o tronco e conta quantos ramos há abaixo de ti deste lado. Quantos passaste?
- Um, dois, t'ês, quat'o, cinco. Passei po' cinco g'andes 'amos, Massa deste lado.
- Então sobe mais um.
Poucos minutos depois ouviu-se de novo a voz anunciando que chegara ao sétimo ramo.
-Agora, Júpiter - disse Legrand, mostrando-se muito excitado. -Vais andando ao longo desse ramo até onde puderes. Se vires alguma coisa estranha dizes-me logo.
Neste ponto qualquer dúvida que ainda me restasse sobre a insanidade mental do meu pobre amigo havia-se dissipado. Não tinha outra alternativa que não fosse chegar à conclusão que a sua loucura era total e fiquei verdadeiramente ansioso por levá-lo para casa. Enquanto meditava no que devia fazer, a voz de Júpiter voltou a ouvir-se:
- Não posso avança' mais. Este' amo 'tá todo seco, 'tá mo'to,
- Disseste que o ramo está morto, Júpiter? - exclamou Legrand numa voz trémula.
- Sim, Massa, 'tá mo'ro como um p'ego da po'ta, rno'to pa'a sernp'e.
- Que hei-de fazer, meu Deus, que hei-de fazer? - perguntou Legrand, entregue a um profundo desespero.
- Fazer!? - exclamei eu, feliz por ter oportunidade de dizer qualquer coisa. - A única coisa a fazer é voltar para casa e irmos para a cama. Vamos! Está a fazer-se tarde. Lembra-te da tua promessa.
-Júpiter - bradou o meu amigo sem me prestar a mínima atenção.
- Estás a ouvir-me?
- Sim, Massa Will, 'tou a ouvi' pe'feitamente.
-. Experimenta bem o ramo e depois vê com o teu canivete se a madeira está muito podre.