O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 17 / 38

A certa altura os latidos tornaram-se tão insistentes que tivemos medo que alarmassem quaisquer pessoas que pudessem andar nas vizinhanças - ou melhor, essa era a apreensão de Legrand, pois pela minha parte acolheria de bom grado qualquer intervenção que pudesse permitir-me levar o meu amigo para casa. Por fim, Júpiter conseguiu acabar com os latidos - saltando furioso para fora da cova, amarrou o focinho do cão com um dos seus suspensórios, voltando em seguida ao seu trabalho, arvorando um grande sorriso.

Nessa altura já tínhamos aberto um buraco de cinco pés de profundidade e não se viam nem sinais de um tesouro. Descansámos então os três e pus-me a esperar que a brincadeira terminasse. Contudo Legrand, embora fosse evidente que se sentia desconcertado, limpou o suor da testa e meteu de novo mãos à obra. A escavação abrangia todo o círculo de quatro pés de diâmetro; alargámos ligeiramente os bordos e aprofundámos a cova mais dois pés, sem que nada aparecesse. O pesquisador de ouro, por quem eu sentia uma pena infinita, saltou enfim para fora do buraco, com um amargo desapontamento estampado no rosto, e começou lenta e relutantemente a vestir o casaco que tirara ao começar o trabalho. Quanto a mim, abstive-me de fazer comentários. A um sinal do amo, Júpiter apanhou as ferramentas e desamarrou o focinho do cão. Feito isto, retomámos em silêncio profundo o caminho de casa.

Tínhamos dado talvez uma dúzia de passos quando Legrand, soltando uma terrível praga, se atirou a Júpiter agarrando-o pela gola do casaco. O atónito negro escancarou os olhos e a boca, largou as pás e caiu de joelhos.

- Ah, patife - disse Legrand, assobiando as sílabas através dos dentes cerrados. - Infernal mariola negro. Fala! Responde-me já e sem rodeios.





Os capítulos deste livro