O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 18 / 38

Qual é o teu olho esquerdo?

- Ai, meu Deus, Massa Will! Então não é este o meu olho esque'do? - respondeu o negro aterrado, tapando com a mão o olho direito e mantendo-a ali com uma obstinação desesperada, como se temesse que o amo lho arrancasse da órbita.

- Eu já sabia! Era o que eu pensava! Hurra! - vociferava Legrand, que largou o negro e executou uma série de piruetas e cabriolas para grande espanto do servo, que, tendo-se posto em pé, olhava sem dizer palavra do amo para mim e de mim para o amo.

- Vamos! Temos de voltar para trás - disse este último. - O jogo ainda não terminou. - E novamente nos dirigimos à tulipeira.

- Júpiter - disse Legrand quando lá estávamos. - Vem cá. A caveira estava pregada ao ramo com a face para fora ou com a face contra o ramo?

- Pa' a fo' a, Massa. De modo que os co'vos lhe come' am os olhos sem dificuldade nenhuma.

- Então foi por este olho ou por este que deixaste cair o escaravelho? - perguntou Legrand apontando para os olhos de Júpiter.

- Foi po' este olho, Massa, o esque'do, como o senho' me disse - e o negro apontava para o seu olho direito.

- Muito bem. Temos então de recomeçar.

Então o meu amigo, em cuja loucura me pareceu vislumbrar um certo método, removeu o pau que indicava o lugar exacto em que caíra o escaravelho e cravou-o de novo três polegadas mais para oeste. Depois, fixando a fita graduada no tronco da árvore no ponto mais próximo desse pau, mediu como da primeira vez em linha recta uma distância de cinquenta pés e marcou um novo ponto afastado algumas jardas daquele em que primitivamente tínhamos cavado.

Em torno desta nova marca foi traçado um círculo um pouco maior que o primeiro e voltando a pegar nas pás começámos a cavar. Eu estava extremamente cansado; sem bem compreender o que causara esta mudança nos meus pensamentos, já não sentia a mesma aversão pelo labor que me era imposto.





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